Um Sussurro nas Trevas

A raça mineradora de Yuggoth

Publicado por G. T. Tessmer em 12 de julho de 2023

The Whisperer in Darkness é uma novela do escritor norte americano H. P. Lovecraft. É praticamente um conto, porque não é muito extenso. Seria, digamos assim, um conto longo, mas tecnicamente falando é um novela. O termo novela (novella), refere-se a uma narrativa cujo comprimento é mais curto que a maioria dos romances (novels), mas também mais longo que a maioria dos contos (short stories). A novela se enquadra entre esses dois extremos, o conto e o romance. O texto original na língua inglesa, possui cerca de vinte e seis mil palavras. A história foi escrita entre Fevereiro e Setembro de 1930 e publicada pela primeira vez em Agosto de 1931 pela revista Weird Tales. No português, algumas versões foram traduzidas como "Um sussurro na escuridão", outras como "Um sussurro nas trevas". Tanto faz.

A primeira coisa que desperta a atenção na história, pelo menos para mim, é a naturalidade da interconexão entre cenários do mundo real e cenários fictícios. Lovecraft situa o enredo entre duas realidades distintas. Por um lado, temos os estados de Vermont, New Hampshire e Massachusetts. Do outro, temos Arkham, uma cidade fictícia localizada no condado de Essex, no estado de Massachusetts. É nesta cidade, mencionada em tantas outras histórias de Lovecraft, que encontramos a famosa universidade Miskatonic. Miskatonic é conhecida e prestigiada pela sua coleção de livros raros, principalmente sobre ocultismo. Livros como Unaussprechlichen Kulten, Book of Eibon e até uma cópia raríssima e genuína do Necronomicon.

Na novela, as cidades de Townshend e Brattleboro, ambas em Vermont, são mencionadas constantemente, ao lado da fictícia Arkham. Apenas para situar geograficamente as coisas: Vermont é um estado da região da Nova Inglaterra, no nordeste dos Estados Unidos. Vermont faz fronteira com os estados de Massachusetts ao sul, New Hampshire a leste, Nova York a oeste e a província canadense de Quebec ao norte.

"Um Sussurro nas Trevas" é narrado sob o ponto de vista de Albert N. Wilmarth, professor de literatura na Miskatonic University. Um evento histórico ocorrido em Vermont, a grande enchente de 1927, serve como pano de fundo logo no início do texto. Jornais locais da época relatam coisas estranhas flutuando nos rios. Corpos que não são humanos e também não se parecem com nenhum animal conhecido. A controvérsia é debatida pela população, quando o professor Wilmarth se pronuncia sobre o caso. Segundo Wilmarth, tais relatos espetaculosos são influenciados por antigas lendas da região.

O enredo se torna interessante quando ele recebe uma correspondência de Henry W. Akeley, um morador de Vermont. Akeley mora em uma casa de fazenda isolada perto da cidade de Townshend e afirma enfaticamente que as supostas criaturas são reais e que ele possui provas de tais alegações. A história se desenvolve através de uma extensa trocas de correspondências entre os Akeley e Wilmarth. Akeley envia para Wilmarth fotografias que teoricamente comprovam a existência das supostas criaturas. Wilmarth também recebe uma estranha gravação fonográfica. Uma pedra negra com inscrições misteriosas também foi enviada, mas o objeto é misteriosamente interceptado durante a viagem e nunca chegou ao seu destino.

Todas as missivas de Akeley confirmam sua repulsa por tais seres. Ele constantemente afirma que é vigiado e teme pela própria vida. Em mais de uma ocasião, seus cães foram mortos e uma série de outros eventos perturbadores aconteciam com certa frequência. Em dado momento, uma estranha e repentina mudança de atitude de Akeley gera desconfiança em Wilmarth. Ele afirma que estabeleceu uma relação pacífica com as criaturas e convence Wilmarth a visitá-lo. Também pede que ele leve consigo as provas que havia lhe enviado anteriormente. 

Wilmarth encontra Akeley em sua fazenda em uma condição deplorável. O lugar isolado, cercado pela floresta misteriosa e impenetrável causa receio e desconfiança. Akeley faz revelações inusitadas. A raça alienígena, conhecida como Mi-Go, possui uma tecnologia avançada para extrair um cérebro humano e conservá-lo em um cilindro mecânico. De tal maneira, a pessoa poderia viver indefinidamente e poderia viajar pelo espaço sideral, suportando os rigores de tal empreitada. O cilindro conectado a dispositivos externos, permite que o cérebro possa ver, ouvir e falar. Akeley quer que Wilmarth faça essa viagem com ele, que aceite o convite das criaturas. Poderão assim viajar juntos para Yuggoth, um posto alienígena avançado em Plutão.

 The Whisperer in Darkness by Alexander Moore

Arte by Alexander Moore (www.alexdraw.co.uk)

Hospedado na casa de Akeley, Wilmarth desconfia que houve uma tentativa de dopá-lo. O café que lhe foi oferecido tinha um gosto estranho e por sorte ele não bebeu. Percebendo o perigo que existia, foge da fazenda de Akeley e salva sua própria vida.

Mi-Go são alienígenas fungoides que possuem uma aparência semelhante a um caranguejo alado. São entidades grandes e rosadas, parecidas com crustáceos do tamanho de um homem. As criaturas possuem um par de asas membranosas que curiosamente não se adaptam bem na atmosfera terrestre. São estruturas utilizadas para voar no éter do espaço sideral.

The Whisperer in Darkness é um exemplo clássico do terror não oculto de Lovecraft. Na época, destoava como narrativa, onde o gênero consistia principalmente de fantasmas, vampiros e outras criaturas mais tradicionais. Lovecraft apresenta algo diferente para a época. O vislumbre do espaço e do cosmos, do infinito e das inúmeras possibilidades que o desconhecido apresenta, é de certa forma, um conceito pioneiro e inovador. Ao menos na ficção. Talvez por isso, Lovecraft tenha se tornado um autor tão popular com o passar dos anos. Porque suas ideias e conceitos sobre o espaço infindável e desconhecido são extremamente contemporâneas, mesmo que a raça alienígena que ele descreveu tenha características caricaturais. Não importa.